terça-feira, 28 de setembro de 2010

caroline

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Chego em casa. Tu dorme.
Com todo o cuidado, tranco a porta
caminho espreitando teu sono e dou a volta na nossa cama que é um colchão
no chão.

Abro devagar a janela tentando minimizar o rangido
tu te mexe
prendo o fôlego me sento na janela tiro a mão do bolso e acendo um cigarro.

Projeto meu corpo de costas para fora do prédio e
assopro a fumaça no mundo lá
fora.

Entre pano retorcido e cabelo preto
tu dorme
os olhos sérios fechados
a boca  tranqüila.
Iluminada pela luz da rua, tu é da cor do lençol.

Com um movimento automático, bato a cinza do cigarro no mundo
a janela machuca minha bunda
me mexo
minha bunda escorrega na janela
o cigarro na mão atrapalha
perco o equilíbrio
minhas pernas sobem, minha cabeça desce
vou morrer
sujeira na calçada
Já estou mais para fora do que para dentro
quando dou um soco na janela e na parede ao mesmo tempo
com as duas mãos
e um coice na parede embaixo da janela
me propulsionando assim para frente.

Caio de joelhos entre nossa cama e a morte
a fumaça me engasga e eu tusso com fúria
cobrindo a boca com a mão manchada de vermelho
putamerda quebrei o vidro janela.

Acordada
assustada
tu olha para mim.

Viro as palmas das mãos para o céu, tentando falar, tentando explicar, mas não consigo.
Tu me pergunta o que... e começa a
rir

começo a rir contigo
tusso com cada vez mais força
mancho o lençol de sangue
e damos risada até chorar.

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

É impressionante perceber
os afetos sempre tortos 
feito galhos de uma buganvília
que brilha