terça-feira, 26 de outubro de 2010

MANUAL PRÁTICO



Aí vai um poema de 2003, 2004. Nessa época eu escrevia poemas assim:


Fome 
ponha o bife na boca
sinta o prazer das vacas mutiladas
enquanto mastiga
sinta o sabor do tecido carbonizado



Engula 
force 
suagarganta
o bolo de coisa descendo

Sinta o estômago vazio
e o ácido dentro dele pulando na comida
como um bando faminto
de cachorros vadios

Olhe

Sinta a corrente, o ciclo. 

Quando os olhos piscam Deus treme.

Ouça a perturbação de um quarto cheio de mim escrevendo.

Tudo tem motivo
até os distantes gritos da rua.

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

política

Escrevi isso na época da notícia, mas acho que ainda serve.

Mini-domo de ferro*
quando, banguela
Berlusconi vai sorrir?

http://www.youtube.com/watch?v=QpRf1HCiF2Y&feature=related

* o objeto atirado contra o primeiro ministro foi uma miniatura de ferro maciço da Catedral de Milão, o Duomo di Milano.

A IMPORTÂNCIA DO SILÊNCIO


quinta-feira, 21 de outubro de 2010

felicidade na moleira

O sol rebrilha nas ondas verdes de Aruba. Jamal Elias, meu irmão, veio ao nosso encontro. Eu e a Mag estávamos há vários dias no Ready Rumba Resort, ao lado do Banco Nacional, tomando piña coladas, observando a movimentação. Havia meses que o paradeiro do meu irmão me era desconhecido, mas, com grande felicidade, recebi o contato dele: uma Asa-branca, carregando um texto longuíssimo narrando acontecimentos de nossas vidas, de anos atrás, em um pen drive. No final, uma palavra, uma data e um código

ORANJESTAD
21 10 10
345 Dsjdkl345

Mensagem recebida e compreendida, sem maiores demoras, Mag e eu fizemos planos, colocados em prática com uma precisão científica: 

1. Comprar maiôs pretos e bermudas coloridas 
2. Arranjar um par de passaportes com os vistos necessários
3. Viajar para Aruba e alugar a suíte presidencial de um resort nas coordenadas referidas.
4. Comprar óculos escuros, armas e máscaras de ski.
(o último item teve de ser substituído por meias calças, cedidas sem protesto pela Mag)

E estávamos nós, eu e ela, sentados à sombra, já sem nenhuma expectativa, quando aterrissa seu paraglider, à nossos pés, meu irmão Jamal, terno de linho, chapéu panamá, um portentoso e aromático charuto entre os dedos e um sorriso no seu rosto que se duplicou nos nossos. Todos nos abraçamos.

Passamos o dia conversando sobre o futuro da indústria dos animais geneticamente modificados, à exemplo dos mini-bois, onde provavelmente vamos investir nossa futura fortuna. Na janta, bebemos e choramos e nos despedimos com carinho. Durmo abraçado em Mag, tenho pesadelos horríveis dos quais não lembro quando acordo, e, ao olhar pra ela, nada mais existe. Até que ela acorda também, se põe de pé de um salto e se veste. As palavras são desnecessárias, sabemos tudo o que vamos fazer. Me visto também.

No Banco Nacional, tudo transcorre como esperado. Ao receber o sinal, entramos, os dois atirando para cima e gritando em holandês, enquanto Jamal, de barba postiça, aponta um revólver para a bancária que o atendia. Rendemos os seguranças, enchemos sacos de lixo com Florins de Aruba e saímos correndo sem ferir ninguém, os três.

Subimos em um helicóptero fretado, eu arranco da cara a meia-calça suada e dou um beijo na Mag. Jamal beija a russa de capacete e uniforme militar que segura o manche, logo depois nos apresentando a quarta cúmplice. 
O helicóptero decola enquanto, lá dentro, a gente canta, estoura champagne e se abraça.

terça-feira, 19 de outubro de 2010

26/03/09

os pés descalços, dançamos uma dança lenta
em cima de noventa e nove garrafas quebradas
o peito de um homem morto.
E as tuas lágrimas que tocam o meu rosto são quentes
e os teus lábios e a tua língua, incandescentes
e nós dançamos no escuro, e o escuro é enorme, e eu te aperto contra mim
para ter a certeza
de que tu realmente
está aí.

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

sobre a parte B do diário, retirada

...melhor assim... 



quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Meu fígado, seu filho da puta
na hora final
vou dar um porre em nós dois.

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

poema de amor despudorado

.

Teu corpo queima minha boca
te encerro em meus braços
te esmago com o peso da minha raiva
enquanto 
elástica
tu me atiça.

Vou te arrebentar, sua puta
digo com uma voz que talvez não seja a minha
vai me arrebentar? - pergunta
puta.
Digo:
Sim - caralho - vou te arrebentar
vou terminar contigo e comigo
vou me explodir dentro de ti.

E beijando a boca
o queixo
a nuca,
e forçando músculos
as veias juntas
me esvaio
te lavo em mim
tu, que só é minha
no vazio iluminado
dos nossos olhos revirados
no áspero do gozo.

(novembro de 2008)

quinta-feira, 7 de outubro de 2010


















.
If Hokusai could get this high
what picture would he draw?

...........

This humble haiku-attempt goes to all the english speaking readers, if there are any, since Google has recently told me that there are people in the U.S.who actually access this website.

If this is true, I'll be glad to hear from y'all !

(bag your pardon if I have mispelled any word)
.
Com a manhã vem a morte, com a morte vem o sonho. 
A vida se resume a isso.
(flash)
em uma cabine telefonica
(flash)
acendo um cigarro
(flash)
com um isqueiro quebrado
(flash) (flash) (flash)
e a brasa queima. Mora? 
E o mundo, lá fora
que se contente em se alegrar 
só de olhar
para a minha cara feia.


................................


fragmento escrito em 20 de novembro de 2008, pela manhã. 
Acho que tenho que parar de usar "mundo lá fora"...