segunda-feira, 1 de novembro de 2010

SETE HORAS E OITO MINUTOS DE UM NOVO NOVEMBRO

cada sorriso que eu dou
cada cigarro que eu fumo

Porto Alegre é uma miragem no passado próximo

estou enrolado em uma toalha, no meio da sala.

Em algumas horas a faxineira vai chegar e
vai recolher tudo,
é dia, cinzas e restos de comida, mas minha mente passeia
por todas as coisas amáveis e estrangulaveis
por todas as vias libertas
por essa cidade inteira que é concreto
carinho.

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É impressionante como algumas coisas deixam um homem 

terça-feira, 26 de outubro de 2010

MANUAL PRÁTICO



Aí vai um poema de 2003, 2004. Nessa época eu escrevia poemas assim:


Fome 
ponha o bife na boca
sinta o prazer das vacas mutiladas
enquanto mastiga
sinta o sabor do tecido carbonizado



Engula 
force 
suagarganta
o bolo de coisa descendo

Sinta o estômago vazio
e o ácido dentro dele pulando na comida
como um bando faminto
de cachorros vadios

Olhe

Sinta a corrente, o ciclo. 

Quando os olhos piscam Deus treme.

Ouça a perturbação de um quarto cheio de mim escrevendo.

Tudo tem motivo
até os distantes gritos da rua.

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

política

Escrevi isso na época da notícia, mas acho que ainda serve.

Mini-domo de ferro*
quando, banguela
Berlusconi vai sorrir?

http://www.youtube.com/watch?v=QpRf1HCiF2Y&feature=related

* o objeto atirado contra o primeiro ministro foi uma miniatura de ferro maciço da Catedral de Milão, o Duomo di Milano.

A IMPORTÂNCIA DO SILÊNCIO


quinta-feira, 21 de outubro de 2010

felicidade na moleira

O sol rebrilha nas ondas verdes de Aruba. Jamal Elias, meu irmão, veio ao nosso encontro. Eu e a Mag estávamos há vários dias no Ready Rumba Resort, ao lado do Banco Nacional, tomando piña coladas, observando a movimentação. Havia meses que o paradeiro do meu irmão me era desconhecido, mas, com grande felicidade, recebi o contato dele: uma Asa-branca, carregando um texto longuíssimo narrando acontecimentos de nossas vidas, de anos atrás, em um pen drive. No final, uma palavra, uma data e um código

ORANJESTAD
21 10 10
345 Dsjdkl345

Mensagem recebida e compreendida, sem maiores demoras, Mag e eu fizemos planos, colocados em prática com uma precisão científica: 

1. Comprar maiôs pretos e bermudas coloridas 
2. Arranjar um par de passaportes com os vistos necessários
3. Viajar para Aruba e alugar a suíte presidencial de um resort nas coordenadas referidas.
4. Comprar óculos escuros, armas e máscaras de ski.
(o último item teve de ser substituído por meias calças, cedidas sem protesto pela Mag)

E estávamos nós, eu e ela, sentados à sombra, já sem nenhuma expectativa, quando aterrissa seu paraglider, à nossos pés, meu irmão Jamal, terno de linho, chapéu panamá, um portentoso e aromático charuto entre os dedos e um sorriso no seu rosto que se duplicou nos nossos. Todos nos abraçamos.

Passamos o dia conversando sobre o futuro da indústria dos animais geneticamente modificados, à exemplo dos mini-bois, onde provavelmente vamos investir nossa futura fortuna. Na janta, bebemos e choramos e nos despedimos com carinho. Durmo abraçado em Mag, tenho pesadelos horríveis dos quais não lembro quando acordo, e, ao olhar pra ela, nada mais existe. Até que ela acorda também, se põe de pé de um salto e se veste. As palavras são desnecessárias, sabemos tudo o que vamos fazer. Me visto também.

No Banco Nacional, tudo transcorre como esperado. Ao receber o sinal, entramos, os dois atirando para cima e gritando em holandês, enquanto Jamal, de barba postiça, aponta um revólver para a bancária que o atendia. Rendemos os seguranças, enchemos sacos de lixo com Florins de Aruba e saímos correndo sem ferir ninguém, os três.

Subimos em um helicóptero fretado, eu arranco da cara a meia-calça suada e dou um beijo na Mag. Jamal beija a russa de capacete e uniforme militar que segura o manche, logo depois nos apresentando a quarta cúmplice. 
O helicóptero decola enquanto, lá dentro, a gente canta, estoura champagne e se abraça.

terça-feira, 19 de outubro de 2010

26/03/09

os pés descalços, dançamos uma dança lenta
em cima de noventa e nove garrafas quebradas
o peito de um homem morto.
E as tuas lágrimas que tocam o meu rosto são quentes
e os teus lábios e a tua língua, incandescentes
e nós dançamos no escuro, e o escuro é enorme, e eu te aperto contra mim
para ter a certeza
de que tu realmente
está aí.

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

sobre a parte B do diário, retirada

...melhor assim... 



quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Meu fígado, seu filho da puta
na hora final
vou dar um porre em nós dois.

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

poema de amor despudorado

.

Teu corpo queima minha boca
te encerro em meus braços
te esmago com o peso da minha raiva
enquanto 
elástica
tu me atiça.

Vou te arrebentar, sua puta
digo com uma voz que talvez não seja a minha
vai me arrebentar? - pergunta
puta.
Digo:
Sim - caralho - vou te arrebentar
vou terminar contigo e comigo
vou me explodir dentro de ti.

E beijando a boca
o queixo
a nuca,
e forçando músculos
as veias juntas
me esvaio
te lavo em mim
tu, que só é minha
no vazio iluminado
dos nossos olhos revirados
no áspero do gozo.

(novembro de 2008)

quinta-feira, 7 de outubro de 2010


















.
If Hokusai could get this high
what picture would he draw?

...........

This humble haiku-attempt goes to all the english speaking readers, if there are any, since Google has recently told me that there are people in the U.S.who actually access this website.

If this is true, I'll be glad to hear from y'all !

(bag your pardon if I have mispelled any word)
.
Com a manhã vem a morte, com a morte vem o sonho. 
A vida se resume a isso.
(flash)
em uma cabine telefonica
(flash)
acendo um cigarro
(flash)
com um isqueiro quebrado
(flash) (flash) (flash)
e a brasa queima. Mora? 
E o mundo, lá fora
que se contente em se alegrar 
só de olhar
para a minha cara feia.


................................


fragmento escrito em 20 de novembro de 2008, pela manhã. 
Acho que tenho que parar de usar "mundo lá fora"...

terça-feira, 28 de setembro de 2010

caroline

.


Chego em casa. Tu dorme.
Com todo o cuidado, tranco a porta
caminho espreitando teu sono e dou a volta na nossa cama que é um colchão
no chão.

Abro devagar a janela tentando minimizar o rangido
tu te mexe
prendo o fôlego me sento na janela tiro a mão do bolso e acendo um cigarro.

Projeto meu corpo de costas para fora do prédio e
assopro a fumaça no mundo lá
fora.

Entre pano retorcido e cabelo preto
tu dorme
os olhos sérios fechados
a boca  tranqüila.
Iluminada pela luz da rua, tu é da cor do lençol.

Com um movimento automático, bato a cinza do cigarro no mundo
a janela machuca minha bunda
me mexo
minha bunda escorrega na janela
o cigarro na mão atrapalha
perco o equilíbrio
minhas pernas sobem, minha cabeça desce
vou morrer
sujeira na calçada
Já estou mais para fora do que para dentro
quando dou um soco na janela e na parede ao mesmo tempo
com as duas mãos
e um coice na parede embaixo da janela
me propulsionando assim para frente.

Caio de joelhos entre nossa cama e a morte
a fumaça me engasga e eu tusso com fúria
cobrindo a boca com a mão manchada de vermelho
putamerda quebrei o vidro janela.

Acordada
assustada
tu olha para mim.

Viro as palmas das mãos para o céu, tentando falar, tentando explicar, mas não consigo.
Tu me pergunta o que... e começa a
rir

começo a rir contigo
tusso com cada vez mais força
mancho o lençol de sangue
e damos risada até chorar.

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

É impressionante perceber
os afetos sempre tortos 
feito galhos de uma buganvília
que brilha

terça-feira, 31 de agosto de 2010

CONTATO FURADO

Caros leitores !

O LINK PARA O MEU EMAIL QUE ESTÁ NO MEU PERFIL NÃO FUNCIONA!

Mas o email é aquele mesmo !

Recebi ótimas notícias - atrasadas graças a essa péssima falha - e sobre as quais vou fazer um suspense ! : D

Caso alguém tenha me escrito um email por intermédio desse link maldito, por favor me reenvie para samlout@gmail.com ou para joaopedrokc@hotmail.com, por que
EU NÃO RECEBI !

Um PUTA ABRAÇO PRA TODO MUNDO !!!!

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

O Rebolo

Uma serpente negra desliza 

no fundo de um açude barrento.
É preciso carnear
cravar a faca nessa cobra
furar essa criatura
com as mãos cruas.
Essa cidade é um buraco
e eu só me preocupo com os meus gatos
Diz o homem-gato
atirado no sofá de seu apartamento, por onde
uma dúzia de felinos distintos passeia.
O sol. 
é dia. 
é meio dia. um canivete dobrado
um moinho de raiva
de nada
uma cara de homem
de nada
e eu caminho sorrindo pela rua
pra mostrar para os outros
que eu não sou o demônio.
E com algum esforço
eu consigo sorrir com vontade.
E nessa hora
me brilha nos dentes opacos
dentro da boca seca
através de toda essa fumaça
a criança que eu era
(corta)
o vodu do boneco
(corta)
uma encruzilhada em um dia de sol
(corta)
uma estrada no campo, o interior
(corta)
e o campo é lindo e verde e fede a bosta
pra sempre.
(corta)


domingo, 25 de abril de 2010

Resenha

Aqui vai mais uma impressão sobre meu livro, "O Ideograma Impronunciável", publicado no ano passado pela editora Dublinense. Quem escreveu foi uma senhora, amiga da minha avó Enóe, que me repassou o texto abaixo por email há bastante tempo. Essa amiga dela é psiquiatra e deve ter oitenta anos para mais. Desde que recebi, fiquei em dúvida sobre publicar ou não. Mas, há alguns segundos, decidi que uma impressão tão interessante, distanciada e angulosa, merece ser registrada.

ola enoe acabei de ler o livro do seu neto gostei muito apesar das provocações proprias da juventude o texto prende a gente. muito bom mesmo por ser ele tão jovem. mas fiquei invocada com titulo o ideograma impronunciavel se não se pode falar é porque é tabu e o que seria essa palavra que não se pode falar sexo, drogas?eu pensei logo na morte. E este sobrenome dele é da parte da mãe e seria de origem polonesa?
.
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 Se você leu o livro e tem qualquer coisa para dizer, aceito textos, fotos, músicas, com o compromisso de publicar, não importando teor & forma.
Se você não tem o livro e quer ter, pode compra-lo em qualquer livraria cultura ou entrar em contato samlout@gmail.com

sábado, 20 de março de 2010

Retorno

Encontrei esses dias uma transcrição da coluna que o Luiz Paulo Faccioli fez do meu livro, "O Ideograma Impronunciável", na Band News e que me deixou muito contente.

................
  
           O processo de formação de um escritor dura uma vida inteira. Não há escritor que já nasça pronto e tampouco aquele que não tenha nada a crescer depois do último livro. A literatura é um eterno processo de aprendizado. Quanto mais se vive, e quanto mais se aprende, mais chance há de se viver e de se aprender. Mas existe também um aspecto bastante subjetivo e que parece contrariar a possibilidade de superação pela aprendizagem: há os que nascem com o talento para escrever, e há os que, mesmo querendo e tentando uma vida inteira, jamais chegarão lá. Será obra da genética, da água que se bebe, de uma determinada configuração astral na hora do nascimento? Talvez um dia a ciência venha a explicar o fenômeno. Mas há, posso garantir que há, o dom para escrever, e que poucos têm.

           Quem gosta de ler está sempre à procura desses espécimes raros e, quando um aparece, é sempre um alento: a literatura continua a salvo.

           João Kowacs Castro tem duas décadas de vida e lançou pela Dublinense seu primeiro livro de contos, O ideograma impronunciável. Segundo o autor, o livro foi escrito aos dezenove anos.

           Tudo nele impressiona: o domínio do conto, talvez o mais difícil dos gêneros em prosa, a naturalidade do discurso, as belas e originais figuras de linguagem, o despudor de usar um léxico forte, às vezes chulo, mas sempre condizente com o universo ficcional, o timing preciso, o atrevimento de inserir poesia em meio à prosa — o último conto, inclusive, é todo ele escrito em versos. Não há uma linha temática, mas temas recorrentes, como anjos e alturas, que propiciam uma certa unidade.

Algumas passagens surpreendem pela construção sofisticada:

PASSOS NAS MINHAS PEGADAS! OLHOS NAS MINHAS COSTAS! Não tenho descanso.


Está bem atrás de mim. Entro em um prédio, dou de cara com uma escada. Meus pés se desfazem na velocidade da subida. Tudo para trás e para baixo, para trás e para baixo, e eu subo, uma rolha em direção aos milhões de fogos de artifício. Meu sangue minhas pernas meus pulmões. Sorrio canino, a língua de fora, o coiote repousando na beira do penhasco. Estou no topo de um prédio, tenho talvez minutos.

O ideograma impronunciável é obra de gente grande.


............................( http://www.artistasgauchos.com.br/portal/?cid=346 )

sábado, 23 de janeiro de 2010

monólogo/poema inspirado em FEVER 103° de Sylvia Plath

No início do ano passado, uma produtora entrou em contato comigo para que eu roteirizasse um argumento que já existia, visando um edital.

Por questões de ética profissional, só vou revelar o que é fundamental para contextualizar:
O personagem principal deveria ser uma mulher.
O final do curta tinha de ser ela declamando um poema para a câmera.

Escrevi o roteiro e, no final, a personagem declamava o poema FEVER 103° (febre 40 graus) da Sylvia Plath.
MAS, fui informado de que não seria possível usarmos o poema.
PORTANTO, eu deveria escrever outro.
Então, escrevi o texto abaixo, inspirado no poema da Sylvia Plath.

Já que nunca mais tive o retorno de o que aconteceu, aqui vai o texto:



( Aqui vai o link do poema original: http://www.americanpoems.com/poets/sylviaplath/1395 )

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

fragmento do meio do filme - tava trancando aí e decidi publicar

Agora há pouco, uma centopéia de meio metro matou um rato, na trilha por onde a gente tava passando. Esses nativos não se impressionam com nada. O cara na minha frente caminhou por cima da centopéia enroscada no rato como se não tivesse visto. Eu desviei com um pulo, e o que vinha atrás de mim chutou os dois bichos de volta para o mato e riu do meu susto.
As folhas cobrem o céu e o ar é muito úmido. A roupa está a um passo de apodrecer no corpo.
E isso é só a ida.
....


Chegamos na aldeia deles. Índios de bermuda, ouvindo rádios e fumando cigarros. Não sei como, mas eles conseguiram luz elétrica. No armazém fica uma televisão. O armazém é de uma família de brancos que mora na aldeia há muito tempo. São umas sete casas de palafita, a aldeia, dispostas ao redor de uma igreja cabocla e um armazém - duas casas de tijolos, não muito maiores do que o resto dos casebres.

Os médicos que trabalham no meio da floresta são quase todos voluntários do excército. Enquanto os soldados dinamitam pistas de pouso de traficantes, os doutores arrancam dentes e dão remédios. Esse o tipo de filho da puta com quem eu me envolvo: alguém que quis vir para cá.
Entrego para ele a bolsa térmica com as vacinas.
Ele sorri por baixo do bigode e diz que acha melhor eu dormir na aldeia. Na realidade, eu não tenho escolha. Ninguém vai me acompanhar pela mata correndo o risco de que anoiteça.
Que se foda, penso, aceitando o convite do milico.

....................

Em uma mistura de respeito e desconfiança, todos acharam melhor que eu fosse dormir na igreja. Me dão peixe para comer e um colchão de palha. Não aceito a água, tenho o meu cantil.
A igreja é uma construção pequena, o teto bem alto. Já é noite. Um morcego entrou pela algum buraco no telhado, e fica voando no teto, fazendo barulho. Não é difícil encontrar alguém com o rosto deformado. Esses bichos filhos da puta, os morcegos, roem o nariz e as mãos de bebês.

O morcego sobrevoa tudo e dá rasantes, dando aqueles gritinhos medonhos.
A igreja tem várias cadeiras e bancos feitos de tronco, em duas filas, que terminam no altar, que é uma mesa com algumas estátuas de santos e um crucifixo, todas as figuras bíblicas com caras de índios.
Tomo um trago do cantil, desce queimando. Estou deitado no chão, olhando as manchas nas paredes, quando escuto um barulho. Uma cobra, que estava pendurada em uma viga no teto, acabou de dar um bote no morcego. Eu já tinha ouvido falar nisso, cobras domesticadas, ensinadas pelos índios.
Caralho.