segunda-feira, 23 de agosto de 2010

O Rebolo

Uma serpente negra desliza 

no fundo de um açude barrento.
É preciso carnear
cravar a faca nessa cobra
furar essa criatura
com as mãos cruas.
Essa cidade é um buraco
e eu só me preocupo com os meus gatos
Diz o homem-gato
atirado no sofá de seu apartamento, por onde
uma dúzia de felinos distintos passeia.
O sol. 
é dia. 
é meio dia. um canivete dobrado
um moinho de raiva
de nada
uma cara de homem
de nada
e eu caminho sorrindo pela rua
pra mostrar para os outros
que eu não sou o demônio.
E com algum esforço
eu consigo sorrir com vontade.
E nessa hora
me brilha nos dentes opacos
dentro da boca seca
através de toda essa fumaça
a criança que eu era
(corta)
o vodu do boneco
(corta)
uma encruzilhada em um dia de sol
(corta)
uma estrada no campo, o interior
(corta)
e o campo é lindo e verde e fede a bosta
pra sempre.
(corta)


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