terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Interatividade

É NOITE:
Envesgando vielas o velho manca a bengala balança a cabeça
não sabe o que fazer:
O que ele viu é demais, demais pra quaquer um
e ele foge
foge do medo
gigantesco pássaro do caralho, já no passado
foge do eunuco sem cara
(QUEM - Por Deus - QUEM seria?)
e tenta repassar
Passo A Passo
o que o trouxe até aqui:

Por que !
por deus !
por que !
bengalear a benga !
de um homem morto?!

No entanto
não tem tempo de chegar a nenhuma conclusão o velhaco distraído:
derrubado por um par de marinheiros boiolas que cantarola uma música, o agonizante Anônimo encontra seu fim, em meio aos espasmos de alegria dos traiçoeiros marinheiros, musculosos e embonecados, e dos seus próprios espasmos, se misturando todos em uma ruidosa fanfarra sanguinolenta e colorida, que dura aproximadamente 17 minutos.

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

início de um filme

.
Tem esse cara, que é um bosta.

Quer dizer, ele não é encantador o suficiente, nem canalha o suficiente.
É quase franzino e covarde. Vive sorrindo o sorriso meio burro de quem entendeu a piada.
Pois é, esse cara
fala a coisa engraçada pro sujeito errado e o sujeito errado vai pra cima dele.
Os dois se atracam
a socos, pontapés, mordidas
e esse cara, o nosso bosta 
que está levando a pior
saca uma faca e crava na barriga do outro
que geme e geme e morre.
Então, para se salvar, o nosso cara
retalha o rosto do recém defunto e
zarpa na manhã seguinte
em um barco cujo destino é a selva
Partindo como voluntário
para trabalhar na distribuição de vacinas 
em comunidades inóspitas de pescadores
na beira do rio Amazonas
Tomando assim a identidade do sujeito que ele matou.

                                      .

Há alguns dias, era de manhã cedo, quando eu acordei, peguei um caderno e comecei a anotar.
Esquecendo muito mais rápido do que anotando, logo desisti e voltei a dormir.
Hoje, há algumas horas, vi a página com essas anotações no caderno da minha namorada.
Em menos de meia página, estava escrito assim: 

                              "
                                 INÍCIO
Apresentacão do personagem (que é um bosta)
Ele briga com um cara, mata o cara e troca de identidade com ele (ele recorta o rosto do sujeito)
Em determinado momento ele fica sabendo do programa dos médicos(talvez através do sujeito que  ele matou)
Ele vai parar na floresta
                              " 
Ela, minha namorada, me perguntou se eu já tinha visto Profissão: Repórter, do Antonioni. Como ainda não vi o filme, aproveitei para escrever o texto do começo do post
que não deixa de ser uma anotação um pouco mais precisa
do começo de um filme que eu não lembro como continua.

                                        .

Se você tiver alguma idéia de como a história continua ou
quiser se manifestar sobre o filme do Antonioni 
ou qualquer coisa
fique à vontade.

domingo, 6 de dezembro de 2009

Sobre escrever em um blog

Escrever em blog é tomar notas em outdoor.
Um exercício interessante....


Logo abaixo, duas versões do mesmo texto
uma escrita e publicada na hora (a mais antiga)
e a outra, lapidada depois de bastante revisão.


Qual é a melhor?

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

o que é isso? (revisão a facão)

Satisfeita, sem nada ver
a salamandra
uma sombra lustrosa
abre a boca e coloca para fora a diminuta língua cor de rosa
feito um cachorro ou uma criança

A água morna
vinda do chuveiro
acerta em cheio
a salamandra e a dona.

O futuro é brilhante para a mulher que ensaboa uma salamandra.

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

O que é isso nas minhas mãos?


As mãos deslizam pelo couro molhado da salamandra chinesa.
Essas criaturas chegam a 1 metro e 60 de comprimento
como será que uma dessas
subiu pelo ralo do meu chuveiro?


O animal se refestela no colo da mulher linda.

A água morna
vinda do chuveiro
acerta em cheio
a salamandra
e a dona.


A salamandra
uma sombra lustrosa
a cabeça redonda adornada por dois orifícios inúteis
- aqueles olhinhos -
sôlta em prazer
coloca a diminuta língüa rosa-choque para fora da boca
e com um sussspiro
se acomoda no colo da dona
que usa um biquíni verde e uma camiseta velha
e luvas de lavar louça amarelas
e faz carinho nesse bicho medonho.

Teu nome vai ser João. Não

João não é um nome bom
tem que ser nome de homem
mas esse nome não
diz a mulher para a salamandra que
satisfeita, sorri
sem nada ver.




E, apesar da salamandra ainda não ter nome, a mulher e a salamandra são felizes
E o futuro é brilhante para essa mulher que ensaboa uma salamandra no chuveiro.

sábado, 28 de novembro de 2009

Pássaros gigantes em Porto Alegre

Volta e meia, caminhando pelo bom fim, eu vejo um pássaro muito grande (maior do que um urubu), marrom, com a ponta das asas brancas.
E não sou só eu que vejo, outras pessoas também vêem - sorte minha.
No apartamento do montador do curta metragem "O Rosto que Sorri", Tomaz Borges, vimos um pássaro exatamente igual.
Inclusive, primeiro nós ouvimos um barulho, algo entre um papagaio e um porco.
E, pelo barulho que nós ouvimos, o pássaro devia estar parado na sacada.
Quando eu cheguei perto, ele saiu voando.


A primeira vez que vi esse pássaro foi há alguns anos atrás no topo do prédio da minha mãe.
Fim de semana retrasado, vi dois deles, enquanto filmava um material com um amigo meu, o Lorean, no topo do prédio mesmo prédio.

São uns animais grandes pra caralho.
O que fica no Bom Fim,  fica nos arredores do pronto socorro, caso alguém se interesse.

Eu imagino do que se alimentam essas criaturas.

Será que elas aprenderam a pegar gatos e cachorros de rua?

Será que elas conseguem levantar uma criança?

Será que algum excêntrico alimenta esses seres incríveis na sacada da própria casa, com baldes cheios de carne e sangue?

Quando eu era criança, não tenho idéia de quantos anos, mas, sem dúvida, menos de 10, eu estava na caminhonete do meu avô, voltando da fazenda dele. Era noite e quem dirigia era minha avó. Nós estávamos indo bem rápido (ainda não haviam pardais de trânsito e minha avó sempre gostou de correr), por uma estrada de chão batido entre dois campos, quando atropelamos um pássaro enorme. Ele vinha cruzando a estrada, passando pela frente do carro. Devia estar mergulhando para pegar algum animal do chão. O pássaro - que minha avó identificou depois como um Carcará - bateu no vidro, e ficou preso ali, com as asas abertas. Eu lembro das penas marrons, dos olhos amarelos - ele olhava para dentro do carro - e das garras. Minha avó freou o carro e o Carcará saiu voando.

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

alegria

Eles passam os dias deitados.
Tirando quando entram no mar, o que é raro
ou quando Precisam comprar alguma coisa
ou ir a algum lugar.

Mas, no geral, passam os dias deitados
juntos.

Ele carrega algo horrível
ela ia ficar louca e não ia se dar conta.

Faz dias que eles chegaram na casa de praia
e pouco importa quem eles são ou o que faziam antes.

Balançando em uma rede, na sombra de uma amendoeira doente,
nenhuma palavra profana as moscas que pairam imóveis no ar.

Ele se preocupa com alguma coisa que está comendo ele por dentro
ela tem os olhos perdidos no oceano
e os seus pensamentos são todos azuis quando ela beija Ele, que parece cansado.

E quando ele precisa carregar o lixo pra fora
de casa
quando ele carrega aquele monte de sujeira
até o monte de sacos pretos cheios de vida
ele não se deixa seduzir pelo assobio do vento [é noite]
ele não se permite pensar na serpente que arma o bote
no saco de lixo e que mira o seu peito
ele abandona o lixo onde é o lugar do lixo e caminha de volta para casa
fumando sem vontade mais um cigarro
e encontra Ela deitada na cama
de braços estendidos
e não há nada para fazer além de ficar a vontade com o seu lado doce
e Scarlet O'Hara vai sempre sofrer pela gente
e os dois se beijam quando aquela mulher linda chora.