sexta-feira, 24 de setembro de 2010

É impressionante perceber
os afetos sempre tortos 
feito galhos de uma buganvília
que brilha

terça-feira, 31 de agosto de 2010

CONTATO FURADO

Caros leitores !

O LINK PARA O MEU EMAIL QUE ESTÁ NO MEU PERFIL NÃO FUNCIONA!

Mas o email é aquele mesmo !

Recebi ótimas notícias - atrasadas graças a essa péssima falha - e sobre as quais vou fazer um suspense ! : D

Caso alguém tenha me escrito um email por intermédio desse link maldito, por favor me reenvie para samlout@gmail.com ou para joaopedrokc@hotmail.com, por que
EU NÃO RECEBI !

Um PUTA ABRAÇO PRA TODO MUNDO !!!!

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

O Rebolo

Uma serpente negra desliza 

no fundo de um açude barrento.
É preciso carnear
cravar a faca nessa cobra
furar essa criatura
com as mãos cruas.
Essa cidade é um buraco
e eu só me preocupo com os meus gatos
Diz o homem-gato
atirado no sofá de seu apartamento, por onde
uma dúzia de felinos distintos passeia.
O sol. 
é dia. 
é meio dia. um canivete dobrado
um moinho de raiva
de nada
uma cara de homem
de nada
e eu caminho sorrindo pela rua
pra mostrar para os outros
que eu não sou o demônio.
E com algum esforço
eu consigo sorrir com vontade.
E nessa hora
me brilha nos dentes opacos
dentro da boca seca
através de toda essa fumaça
a criança que eu era
(corta)
o vodu do boneco
(corta)
uma encruzilhada em um dia de sol
(corta)
uma estrada no campo, o interior
(corta)
e o campo é lindo e verde e fede a bosta
pra sempre.
(corta)


domingo, 25 de abril de 2010

Resenha

Aqui vai mais uma impressão sobre meu livro, "O Ideograma Impronunciável", publicado no ano passado pela editora Dublinense. Quem escreveu foi uma senhora, amiga da minha avó Enóe, que me repassou o texto abaixo por email há bastante tempo. Essa amiga dela é psiquiatra e deve ter oitenta anos para mais. Desde que recebi, fiquei em dúvida sobre publicar ou não. Mas, há alguns segundos, decidi que uma impressão tão interessante, distanciada e angulosa, merece ser registrada.

ola enoe acabei de ler o livro do seu neto gostei muito apesar das provocações proprias da juventude o texto prende a gente. muito bom mesmo por ser ele tão jovem. mas fiquei invocada com titulo o ideograma impronunciavel se não se pode falar é porque é tabu e o que seria essa palavra que não se pode falar sexo, drogas?eu pensei logo na morte. E este sobrenome dele é da parte da mãe e seria de origem polonesa?
.
.

 Se você leu o livro e tem qualquer coisa para dizer, aceito textos, fotos, músicas, com o compromisso de publicar, não importando teor & forma.
Se você não tem o livro e quer ter, pode compra-lo em qualquer livraria cultura ou entrar em contato samlout@gmail.com

sábado, 20 de março de 2010

Retorno

Encontrei esses dias uma transcrição da coluna que o Luiz Paulo Faccioli fez do meu livro, "O Ideograma Impronunciável", na Band News e que me deixou muito contente.

................
  
           O processo de formação de um escritor dura uma vida inteira. Não há escritor que já nasça pronto e tampouco aquele que não tenha nada a crescer depois do último livro. A literatura é um eterno processo de aprendizado. Quanto mais se vive, e quanto mais se aprende, mais chance há de se viver e de se aprender. Mas existe também um aspecto bastante subjetivo e que parece contrariar a possibilidade de superação pela aprendizagem: há os que nascem com o talento para escrever, e há os que, mesmo querendo e tentando uma vida inteira, jamais chegarão lá. Será obra da genética, da água que se bebe, de uma determinada configuração astral na hora do nascimento? Talvez um dia a ciência venha a explicar o fenômeno. Mas há, posso garantir que há, o dom para escrever, e que poucos têm.

           Quem gosta de ler está sempre à procura desses espécimes raros e, quando um aparece, é sempre um alento: a literatura continua a salvo.

           João Kowacs Castro tem duas décadas de vida e lançou pela Dublinense seu primeiro livro de contos, O ideograma impronunciável. Segundo o autor, o livro foi escrito aos dezenove anos.

           Tudo nele impressiona: o domínio do conto, talvez o mais difícil dos gêneros em prosa, a naturalidade do discurso, as belas e originais figuras de linguagem, o despudor de usar um léxico forte, às vezes chulo, mas sempre condizente com o universo ficcional, o timing preciso, o atrevimento de inserir poesia em meio à prosa — o último conto, inclusive, é todo ele escrito em versos. Não há uma linha temática, mas temas recorrentes, como anjos e alturas, que propiciam uma certa unidade.

Algumas passagens surpreendem pela construção sofisticada:

PASSOS NAS MINHAS PEGADAS! OLHOS NAS MINHAS COSTAS! Não tenho descanso.


Está bem atrás de mim. Entro em um prédio, dou de cara com uma escada. Meus pés se desfazem na velocidade da subida. Tudo para trás e para baixo, para trás e para baixo, e eu subo, uma rolha em direção aos milhões de fogos de artifício. Meu sangue minhas pernas meus pulmões. Sorrio canino, a língua de fora, o coiote repousando na beira do penhasco. Estou no topo de um prédio, tenho talvez minutos.

O ideograma impronunciável é obra de gente grande.


............................( http://www.artistasgauchos.com.br/portal/?cid=346 )

sábado, 23 de janeiro de 2010

monólogo/poema inspirado em FEVER 103° de Sylvia Plath

No início do ano passado, uma produtora entrou em contato comigo para que eu roteirizasse um argumento que já existia, visando um edital.

Por questões de ética profissional, só vou revelar o que é fundamental para contextualizar:
O personagem principal deveria ser uma mulher.
O final do curta tinha de ser ela declamando um poema para a câmera.

Escrevi o roteiro e, no final, a personagem declamava o poema FEVER 103° (febre 40 graus) da Sylvia Plath.
MAS, fui informado de que não seria possível usarmos o poema.
PORTANTO, eu deveria escrever outro.
Então, escrevi o texto abaixo, inspirado no poema da Sylvia Plath.

Já que nunca mais tive o retorno de o que aconteceu, aqui vai o texto:



( Aqui vai o link do poema original: http://www.americanpoems.com/poets/sylviaplath/1395 )

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

fragmento do meio do filme - tava trancando aí e decidi publicar

Agora há pouco, uma centopéia de meio metro matou um rato, na trilha por onde a gente tava passando. Esses nativos não se impressionam com nada. O cara na minha frente caminhou por cima da centopéia enroscada no rato como se não tivesse visto. Eu desviei com um pulo, e o que vinha atrás de mim chutou os dois bichos de volta para o mato e riu do meu susto.
As folhas cobrem o céu e o ar é muito úmido. A roupa está a um passo de apodrecer no corpo.
E isso é só a ida.
....


Chegamos na aldeia deles. Índios de bermuda, ouvindo rádios e fumando cigarros. Não sei como, mas eles conseguiram luz elétrica. No armazém fica uma televisão. O armazém é de uma família de brancos que mora na aldeia há muito tempo. São umas sete casas de palafita, a aldeia, dispostas ao redor de uma igreja cabocla e um armazém - duas casas de tijolos, não muito maiores do que o resto dos casebres.

Os médicos que trabalham no meio da floresta são quase todos voluntários do excército. Enquanto os soldados dinamitam pistas de pouso de traficantes, os doutores arrancam dentes e dão remédios. Esse o tipo de filho da puta com quem eu me envolvo: alguém que quis vir para cá.
Entrego para ele a bolsa térmica com as vacinas.
Ele sorri por baixo do bigode e diz que acha melhor eu dormir na aldeia. Na realidade, eu não tenho escolha. Ninguém vai me acompanhar pela mata correndo o risco de que anoiteça.
Que se foda, penso, aceitando o convite do milico.

....................

Em uma mistura de respeito e desconfiança, todos acharam melhor que eu fosse dormir na igreja. Me dão peixe para comer e um colchão de palha. Não aceito a água, tenho o meu cantil.
A igreja é uma construção pequena, o teto bem alto. Já é noite. Um morcego entrou pela algum buraco no telhado, e fica voando no teto, fazendo barulho. Não é difícil encontrar alguém com o rosto deformado. Esses bichos filhos da puta, os morcegos, roem o nariz e as mãos de bebês.

O morcego sobrevoa tudo e dá rasantes, dando aqueles gritinhos medonhos.
A igreja tem várias cadeiras e bancos feitos de tronco, em duas filas, que terminam no altar, que é uma mesa com algumas estátuas de santos e um crucifixo, todas as figuras bíblicas com caras de índios.
Tomo um trago do cantil, desce queimando. Estou deitado no chão, olhando as manchas nas paredes, quando escuto um barulho. Uma cobra, que estava pendurada em uma viga no teto, acabou de dar um bote no morcego. Eu já tinha ouvido falar nisso, cobras domesticadas, ensinadas pelos índios.
Caralho.